Composta pelo prefixo: “Abhi”, que significa adiante, e a raíz “Ni”, que quer dizer, em direção, carregar, levar. Abhinaya, em sânscrito é então aquilo que conduz um significado à audiência. Na dança clássica indiana, Abhinaya é um modo de apresentação que acrescenta à atuação novas dimensões na forma de canto, dança e ritmo, para a expressão de emoções mais profundas e delicadas. Refere-se a um modo de comunicar e despertar uma emoção na audiência, de apresentar um personagem e uma história. De ressaltar a beleza e as qualidades importantes de uma peça, que pode ser apreciada com o suporte dos gestos apropriados, discurso poético na forma de canto, figurino, e para sugerir e evocar os vários estados psicológicos de uma construção poética.
Natyadharma e lokadharma são os principais códigos da dança-teatro indiano. Dharma significa código. Natyadharma é um código ou regra de conduta que explora uma expressão mais imaginativa, elevada e estilizada. Lokadharmi por sua vez, explora uma expressão mais realística. Na dança clássica o Natyadharma é utilizado.
Há quatro meios tradicionalmente conhecidos, para revelar um poema ou uma peça à audiência e para desenvolver seus aspectos deleitáveis até seus limites. Essas quatro formas de expressão dramática, ou abhinaya, que derivaram dos quatro Veda (textos sagrados) são: angika, o abhinaya do corpo. Engloba toda a dramaticidade do corpo ao utilizar a linguagem gestual das mãos, expressões faciais, para transportar um significado e revelar características de um determinado personagem; sattvika, abhinaya de ordem mental, torna-se mais poderosa com o envolvimento interno do ator-dançarino; vacika, de ordem verbal, o abhinaya da palavra falada na forma de canto invariavelmente envolvendo a literatura sânscrita ou Orya; e arahya, que corresponde a arte da ornamentação. Refere-se à utilização de meios externos tais como: figurino, maquiagem e cenário.
No vídeo a seguir a peça Kuruyadunandana do guru Kelucharam Mohapatra é apresentada. A peça é baseada no 24º. canto do poema erótico – mítico Gita Govinda.A intensa paixão é o exemplo que o poeta Jayadeva usa para expressar a complexidade do amor humano e divino.
A lenda de Radha e Krishna não é uma narrativa no sentido de uma progressão ordenada, na qual os protagonistas têm um passado compartilhado, que se desenvolve em direção a um futuro feliz ou trágico. É mais uma invocação e elaboração do aqui e agora da paixão, uma tentativa de captar os excitantes e fugidios momentos dos sentidos e as maneiras confusas pelas quais os prazeres e as dores são sentidas, antes da lembrança retrospectiva que, tentando recuperar o controle perdido sobre a vida emocional, organiza as inevitáveis confusões amorosas. Não se trata de algo trágico mais terno e, ao fim e ao cabo, prazeroso.(…)
A história, visando a essência do ardor da juventude, tem uma paisagem mais amorosa que geográfica; seu cenário não é social ou histórico mas sensual. Radha corre ao encontro do igualmente arrependido e ardente amante. Krishna canta :
Seios palpitantes, rijos ao toque, ansiando pelo abraço amoroso.
Descanse esses jarros no meu peito, rainha do fogo queimante do amor!
Narayana agora é fiel. Ama-me, Radhika!
Depois do êxtase do ato amoroso, momentâneamente apaziguado pela liberação do orgasmo, uma Radha brincalhona pede a Krishna que rearranje suas roupas e seus cabelos despenteados:
Desenhe uma folha nos meus seios!
Ponha cores no meu rosto!
Enlace um cinto nos meus quadris!
Trance meus cabelos com flores!
Prenda filas de pulseiras nos meus braços!
E tornozeleiras de jóias nos meus pés!
O amante de chale amarelo, fez o que Radha pediu.
Excertos do ensaio de Sudhir Kakar,The Cloistered Passion of Radha and Krishna (em The Indian Psyche, Oxford University Press. Delhi. 1998).
Os trechos do Gitagovinda citados por Sudir Kakar são retirados da tradução de Barbara Stoller Miller. Tradução adaptada do ensaio de S.K.: Lúcia Fabrini de Almeida.