A escultura e a dança dividem o corpo em “medidas ou unidades de tempo” (tala), ao longo de vários eixos e em diferentes planos. Essas medidas ao longo desses eixos dão suporte ao escultor e ao dançarino, para acessar um senso de equilíbrio e harmonia na criação de uma imagem.
Consciente dos princípios de volume e proporção que regem a escultura e a dança indiana, o artista modela a imagem no espaço e no tempo. Nessa criação combina posturas (sthana), pose (bhanga), asana e hasta-mudra, em um dado espaço ou medida de tempo, para evocar um sentimento, uma emoção naquele que aprecia a imagem animada. Essa multiplicidade de possibilidades e de combinações de proporções e volume, converge para um estado de “unificação” que carrega um significado simbólico de poder. O movimento na escultura é entendido como uma manipulação do equilíbrio, peso e harmonia, que dota a imagem de um significado espiritual e assim também o é na dança indiana.
Veja a figura de Krishna no desenho – uma postura de equilíbrio perfeito. O pé cruzado (dhanu pada), um leve deslocamento do torso para uma das laterais formando uma curva (bhangi) no outro lado do corpo, exemplifica o princípio de iconografia hindu. Esse sinuoso “s” no tronco de Krishna, característica marcante na dança Odissi, concede à figura um senso de equilíbrio, graça doçura e encantamento, tão peculiar ao personagem. Observe ainda uma atitude tranquila e de centramento, muito embora haja um movimento que já surge internamente pronto para se expressar no próximo gesto. Assim na dança como na escultura … uma boa imagem é sempre “animada” por um poder que flui de dentro para fora!
Cada deus do panteão hindu tem uma forma, uma postura, um asana, um hasta-mudra e atributos simbólicos próprios a serem descritos. Na figura assimétrica que descreve Shiva em postura vigorosa dotada de graça e uma ação interna na pose “quase estática”. As mãos harmoniosamente desenham no espaço formas animadas que ganham vida com a expressividade que surge na consciência e ganha vida no gesto. Assim na dança como na escultura, ao lado de Shiva, a estátua ganha vida com um sutil e gracioso movimento interno.
Texto: Silvana Duarte
Sketches by Kay Ambrose