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“Como a cultura indiana imagina o corpo ? Ela o faz por meio de alto investimento nos cuidados com o corpo: os colírios, os óleos, as massagens, os perfumes, os ornamentos, as joias, os tecidos com transparências e cores, um modo de cultuar o próprio corpo, que eu chamo de “corpo em festa”. Isto pode ser visto nas esculturas e nas pinturas indianas. No Ocidente, o corpo é imaginado como fortaleza individual, com relativa exclusão do mundo exterior, da natureza. É uma imagem defensiva: o que está fora da fortaleza representa perigo. A influência da doutrina cristã tem um papel importante na criação desta imagem onde a separação corpo / alma valoriza a alma e vê o corpo como algo pecaminoso, submetido às paixões, algo impuro, sujo. Fomos colonizados por esta cultura doutrinária cristã. Não é à toa que a carta de Caminha assinala que os habitantes da terra não usam roupas para “esconder suas vergonhas“. Ou como cantam os versos de Chico Buarque, inspirados pela carta: “não existe pecado no lado de baixo do equador“. E mais: para os colonizadores/catequizadores os indígenas não eram dotados de alma, logo não eram humanos. Além do Novo Mundo, esta visão se estendeu para todos os povos colonizados asiáticos e africanos. Portanto para a imagem do corpo nas terras latino-americanas e a brasileira aí evidentemente incluída, é indispensável pensar na importância das culturas indigenas e africanas na concepção da imagem do corpo. Podemos ainda observar no mundo contemporâneo ocidental, um valor negativo emprestado à palavra corpo ao longo de um processo cultural marcado pela rejeição: o corpo é visto como submetido ao envelhecimento, à decadência física, à perda da beleza, à doença, gerando uma espécie de “narcisismo cultural” (basta lembrar a febre das academias de fitness ), esforço para evitar os estragos do tempo.”

Profª Dra. Lúcia Fabrini de Almeida é professora aposentada, mestre e doutora em Comunicação e Semiótica (PUCSP) com pesquisa sobre a obra de Octavio Paz e as relações interculturais entre a América Latina e Índia. Escreveu “O Trapo e a Faca – poesia, pintura, pensamento na obra de J. Swaminathan” – Ed. Terceira Margem; “O Cabeça de Elefante e outras histórias da Mitologia Indiana” – Ed. Cosac Naif; “Tempo e Otredad nos ensaios de Octavio Paz” – Ed. Annablume; “Topografia Poética: Octavio Paz e a Índia” – Ed. Annablume; “Espelhos Míticos da Cultura de Massa – cinema, tv e quadrinhos na Índia”, Ed. Annablume. “O Espelho Interior – O mito Solar nos Contos Indianos de Mallarmé” – Ed. Annablume, entre outros.

Foto: Profa. Maria Lúcia Fabrini de Almeida ao centro, a atriz Ana Andreatta à esq. e a bailarina e Profa. Silvana Duarte à direita. Sesc Pompéia no show do grupo Mawaca com os Índios Kaiapós (2019).

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